segunda-feira, 27 de abril de 2009

Muitas felicidades, muitos anos de vida?

Aparentemente, os 18 anos deviam ser um marco na sua vida. Um marco positivo, digo. Pelo menos é o que as pessoas acham e fazem você achar também. Afinal, quer algo melhor do que ganhar a permissão legal para beber, dirigir e ir preso(e acho que casar sem autorização dos pais, mas, bem, isso a gente dispensa, né?), ao mesmo tempo(digo, ganhar permissão pra tudo isso ao mesmo tempo, não realizar todos esses atos simultaneamente, o que não seria muito difícil)?

Quero. Quero ser criança pra sempre.

As pessoas que enumeram as vantagens de ser um adulto escondem as desvantagens. Ninguém chega pra você e diz: "Puxa, 18 anos? Finalmente vai poder dirigir, beber, ir preso; perder seu direito a cama, comida e roupa lavada de graça, além de ter que se jogar no mundo, assumir responsabilidades e pagar suas próprias contas! Não é demais?". A maioria geralmente para antes de chegar na parte em que sua liberdade entra em jogo.

E, bem, enquanto todo mundo vinha cheio de comemorações e frases do tipo pra cima de mim, celebrando a emoção que terei em comprar minha própria bebida alcoólica pela primeira vez e afins(o que, aliás, acho completamente inútil. Pra que comprar se você tem outros pra fazerem isso por você?), lá estava eu, me sentindo super amada e navegando na onda de energia positiva que emanava.

Porém, mais tarde no dia do meu aniversário, fui pôr a água pra ferver para fazer o chá (só queria adicionar aqui que chá verde com sabor de jasmin tem gosto de sabão. Achei que era importante todos saberem isso antes de se deixarem levar pela embalagem lilás e bonitinha com florzinha.), como de costume, quando recebi uma mensagem do meu irmão, desejando sucesso no meu aniversário e dizendo que mais tarde estaria em casa.
Foi só então que a ficha caiu. Saí quase que instantaneamente daquele estado de paz influenciada e começou a me subir um desespero pela garganta que só poderia ter culminado em lágrimas(no que mais?). E, quando me dei conta, lá estava eu, parada em frente ao fogão, chorando rios frente ao fato de que daqui a menos de um ano seria eu a morar sozinha numa cidade(talvez até estado)estranha, com gente estranha, fazendo um curso estranho; e a mandar uma mensagem de texto pra alguém, desejando sucesso em seu aniversário e dizendo que mais tarde estaria em casa. Tudo isso enquanto o vento que entrava de fora através do exaustor quebrado soprava insistentemente, infernizando a coitada da chama que só tentava fazer seu humilde trabalho de esquentar a água. E então eu era a chama, e o tempo o vento que não me deixava ser o que eu queria ser, fazer o que queria fazer.
Logo, minha mãe entrou na cozinha e, obviamente, quis saber a razão do meu estado deplorável. Meu pai entrou logo depois. Tudo que pude dizer foi: "O...vento...não deixa...a água...ferver...!!". E aí me afoguei em lágrimas de novo. Meu pai, achando que eu realmente estava chorando porque meu chá não ficava pronto(ou pressentindo o pior), deu uma risadinha e tratou de sair de lá o mais rápido possível. E eu pude contar a verdade pra minha mãe, que fez o que mães fazem quando você tem crises de choro.

Depois disso, morrendo de vergonha do que acabara de se passar, peguei duas canecas, coloquei um pouco de chá pra mim, um pouco pra minha mãe, sentamos à mesa e mudamos de assunto. Afinal, somos todos permitidos pelo menos uma crise existencial gostosinha de vez em quando, não é?

Mal posso esperar pela minha crise do quarto de idade.

Se eu soubesse que crescer doesse tanto, não teria rezado tanto pra fazer 11 anos logo pra poder ir ao cinema sozinha. (era 11 anos, né?)